Ser surdo é perceber o mundo de uma forma única.
É sentir o vento dançando nas folhas, ouvir o ritmo da vida nos passos apressados da rua, perceber o calor do sol na pele e a suavidade da chuva no rosto.
É escutar a música que existe nos gestos, nos olhares, nas mãos que se movem, nas expressões que falam mais alto que qualquer palavra.
Viver com deficiência auditiva e usar aparelho é navegar entre sons e silêncios, entre barreiras que o mundo impõe e pontes invisíveis que nós mesmos construímos.
Existem limitações, sim, e obstáculos que parecem intransponíveis.
Mas há também a coragem, a sensibilidade e a capacidade de transformar cada dificuldade em conexão, cada gesto em compreensão, cada silêncio em diálogo profundo.
A surdez não é ausência.
É uma lente que amplia a percepção, que revela nuances que muitos deixam passar despercebidas.
É descobrir formas próprias de comunicar-se, é sentir o mundo com intensidade, é transformar barreiras em pontes e limitações em caminhos de empatia.
É perceber que a vida fala de muitas maneiras, e que cada olhar, cada sinal, cada gesto carrega um universo inteiro de significado.
Que este dia nos inspire a ouvir com atenção, enxergar com empatia e valorizar todas as formas de comunicação. Que nos lembre que a verdadeira escuta não se mede pelo som, mas pela capacidade de sentir, compreender e acolher. Que nos ensine que a diferença é poesia, que a barreira é convite à criatividade e que cada pessoa tem dentro de si uma história que merece ser vista, sentida e celebrada.
Ser surdo é viver o mundo em cores, sons e gestos que muitos não percebem, é transformar o silêncio em poesia e a limitação em força.
Hoje, celebramos a coragem, a sensibilidade e a vida intensa de quem percebe, sente e toca o mundo de uma forma única e extraordinária. Que essa celebração seja também um convite: que todos possamos aprender a ouvir com o coração, enxergar com amor e nos conectar de verdade
Por Elaine Castelo Branco (Rscritora e Promotora MPPA)